quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Maquiavel e os bajuladores na política


O “X” da questão: se pode dar muito Poder para "babão"? Maquiavel explica.

Eis uma prática bastante comum que os nossos líderes políticos locais cometem em demasia. Que é a de dar Poder demais para apoiadores mais próximos com animus de nobreza, identificados como "babões", figuras que sempre acabam gerando intrigas entre seus pares e outras pessoas que poderiam somar forças ao time. Trata-se, portanto, de uma prática coronelista bastante utilizada em ser "tudo para os meus e nada para os outros", delegando aos "puxa-sacos" a função de carrasco, se preciso for.

Nicolau Maquiavel, em sua obra clássica da Ciência Política, "O Príncipe", diz que o governante de um principado (nossas atuais cidadezinhas de interior), deve ter como mandamentos os seguintes: não esmagar os menos poderosos, não aumentar o poder de um Estado já poderoso, não trarás estrangeiro (ou líder externo) de grande poder para habitar o teu território, deverás habitar no território conquistado, e estabelecerá colônias.

Mas trazendo para a realidade brasileira e de cidade pequena, o que se percebe sobre as atitudes de líderes locais vai totalmente contra o que o notável filósofo italiano explica para a manutenção do Poder. Eles permitem que os seus correligionários mais influentes, conhecidos como "babões", pratiquem as retaliações para perseguir os que ousarem criticar o Governo ou para quem não for subordinado a ele, sendo os perseguidos geralmente pessoas menos favorecidas.

Segundo Maquiavel, a forma mais ideal de dominação de uma cidade é arruiná-la ou nela habitar, e nisso os chefes políticos dos pequenos municípios pelo interior do Brasil o fazem muito bem, bloqueando a geração de empregos, deixando toda a influência financeira por cargo da Prefeitura, assim como permanecem sempre presentes na cidade em que comandam as ações. O pensador, porém, adverte que o "Príncipe" não pode ser maniqueísta com seus colonizados, e sempre saber que um deles pode ir para o seu lado e que uns podem voltar-se contra ele.

Justamente por situações como essas, que Maquiavel afirma que os governantes precisam de conselheiros, escolhendo para seu governo apenas homens sábios, e unicamente a eles dar plenos poderes para lhe dizer a verdade. Eles devem ser autorizados a falar exclusivamente sobre o que lhes for perguntado, e nada mais. Pergunta-se: e o babão, como fica? Não se enquadra, pois este permanece na penumbra de implorar por favores para garantir sua subsistência.

No capítulo XXIII da obra, o autor ensina ao Príncipe como evitar os aduladores, e os conceitua de forma categórica: 

"Os homens apreciam tanto a si mesmos e aos seus atos, que acabam se iludindo a tal ponto que os bajuladores passam a fazer parte de sua vida. Todos veem o que tu aparentas, poucos sentem aquilo que tu és, e esses poucos não se atrevem a contrariar a opinião dos muitos". (MAQUIAVEL, 1532)

Em comentários de rodapés, em edição posterior da obra O Príncipe, o grande imperador Napoleão Bonaparte afirmava sobre os bajuladores, que estes “são úteis, uma vez que todo príncipe precisa de estímulos, mas não deve deixar-se envolver por eles”.

Os líderes políticos erram também ao arruinar financeiramente a vida de alguém, conforme a filosofia maquiavélica, onde o pensador de Florença é categórico: "Os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio. E engana-se o Príncipe, cometendo um grande erro, acreditando que as altas personalidades seja possível esquecer antigas ofensas com novos benefícios". Talvez isso funcione com "babão", desde que o líder do Principado não dê Poder demais para ele.

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