terça-feira, 10 de novembro de 2020

O caso Damião Ximenes Lopes e a condenação do Estado Brasileiro em Corte Internacional


Segue resumo do célebre e lamentável caso de Damião Ximenes Lopes, que resultou na primeira sanção sofrida pelo Estado Brasileiro por uma Corte Internacional sobre Direitos Humanos.

O ano era 1999. Damião era natural da cidade de Varjota (CE) e sofria problemas mentais. Devido à sua enfermidade, Damião era interno de uma clínica psiquiátrica na cidade de Sobral, a Casa de Repouso Guararapes, e neste local permanecia quando sofria surtos e crises. Então, um dia, sua mãe, D. Albertina Ximenes recebeu uma ligação para comparecer à clínica, e assim o fez. Chegando no local, ele deparou-se com Damião clamando por socorro e pedindo para chamar a Polícia. Dias depois, veio a notícia da morte de Damião Ximenes Lopes. Ele tinha 30 anos.

Sua irmã, Irene Ximenes, então, ao obter a certidão de óbito, constatou que a causa da morte estava como “causa real inconclusiva”. Fato que revoltou a família, que queria saber o real motivo do falecimento do ente querido, e claro, responsabilizar os culpados pelo acontecido. Irene protocolou uma ação na Comarca de Sobral requerendo indenização cível de danos morais no valor de 150 mil reais, além de responsabilização penal do médico diretor da clínica, de dois enfermeiros e dois auxiliares de enfermagem.

Diante da inércia das autoridades, Irene recorreu à Câmara Municipal para que fosse tomadas algumas medidas, posteriormente, à esfera estadual, quando o então deputado estadual do PT, João Alfredo, abraçou a ideia, fazendo com que o caso chegasse até Brasília e tomasse repercussão nacional. Com o impacto causado, o caso Damião chegou até o conhecimento da ONG “Justiça Global”, que atuou no famoso caso da chacina da Candelária. Os advogados da ONG então, entraram em contato com a família de Damião Ximenes para ingressarem como coautores da ação para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, para analisar o porquê da letargia do Estado Brasileiro e seu Poder Judiciário para com a situação.

A denúncia protocolada foi fundamentada com laudos periciais onde constavam hematomas no corpo, depoimentos do advogado Dr. Walter Carvalho, de uma psicóloga, dentre outros profissionais liberais. A Corte internacional então notificou o Governo do Brasil, que em nenhum momento se manifestou. Baseando-se das provas anexadas nos autos, a Corte Interamericana, em agosto de 2006, CONDENOU o Estado Brasileiro a indenizar a família de Damião em valor de aproximadamente 150 mil dólares, por ferimento à integridade física do paciente, desrespeito à Dignidade da Pessoa Humana, não atendimento na questão jurídica e pela não proteção judiciária.

A União Federal tentou recorrer, fundamentando no “Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos”, porém, não obteve êxito. O processo na área cível também foi julgado procedente pela Justiça Brasileira, contudo, a família jamais recebeu os pagamentos, assim como ninguém foi responsabilizado criminalmente.

Apesar de todo o sofrimento da família e do passar dos anos, este emblemático caso serviu de parâmetro para a fechamento de vários manicômios e instituir uma política antimanicomial pelo país. Este o legado de Damião Ximenes Lopes e sensação de que Justiça que existe no mundo globalizado ainda não adentrou nossas fronteiras.

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PAULO MONTEIRO ADVOCACIA & CONSULTORIA

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