O QUE O ESTADO NÃO É
Universalmente, o estado é considerado como uma instituição
de serviços sociais. Alguns ainda o chamam de divindade da civilização, embora
muito ineficiente. Contudo, muitos ainda o consideram como um meio necessário
para atingir objetivos específicos que a humanidade considera importante.
Com a “chegada” da Democracia, a identificação do Estado
passou a ser algo mais sentimental do que ético, mesmo que o Estado violasse os
princípios da razão ou senso comum, então, não foi algo muito atípico ouvir
coisas como: “Nós somos o governo”, ou “Nós somos o Estado”.
Porém, esse termo coletivo “nós” é uma camuflagem
ideológica. Se “nós somos o Estado”, então qualquer coisa antiética e imoral
que o estado fizer, nós o também fizemos. E se seguirmos essa linha de
raciocínio, os judeus não foram mortos, na verdade, ao contrário, eles
“cometeram suicídio”, uma vez que eles eram o governo. Devemos, portanto,
enfatizar que “nós” não somos o Estado.
Para falar a verdade, o Estado não nos representa e não
representa de forma concreta a maioria das pessoas. E mesmo que fosse representado
pela maioria, e ainda sim esta maioria decidisse algo contra a minoria, isso
ainda seria considerado antiético e nada voluntário por parte das outras
pessoas.
Mas se o Estado não é “nós” e muito menos uma “família” que
se reúne para conversar sobre problemas mútuos, o que ele é então? De forma
sucinta, o Estado é a organização social que visa manter o seu monopólio
através da coerção, isto é, do uso da força e da violência em uma determinada
área territorial; e é a única organização social que não utiliza do
voluntarismo, mas sim, da coerção.
Enquanto outros indivíduos ou instituições obtêm seu
rendimento através de produção de bens de modo pacífico e de venda voluntária,
o Estado obtém seus rendimentos através do uso da coerção, isto é, pelo uso da
ameaça e das armas. Depois disso, o estado passa a regular e ditar as ações de
seus súditos.
O QUE O ESTADO É
O ser humano nasce indefeso e, por virtude disso, necessita
usar sua mente para aprender como usar recursos, transformá-los em
investimentos ou objetos e locais de que modo possam lhe satisfazer. E a única
forma para o ser humano fazer isso é o uso da mente e da energia para
transformar os recursos. Após isso, estes recursos poderiam ser trocados por
outros, que eventualmente também foram criados.
O ser humano descobriu que, através da troca mútua e
voluntária (comércio) existia uma produtividade, e através dela o padrão de
vida de todos os participantes dessa troca poderia aumentar significativamente.
Portanto, o caminho significativo e natural para a
sobrevivência da espécie e sua prosperidade é utilizando sua mente e energia
para se envolver em um processo de produção e troca. A realização disso,
primeiramente, encontrando recursos naturais, e após isso ele junta seu
trabalho com tal e o transforma em sua propriedade individual, e então, a troca
com a propriedade individual de outras pessoas, que fora produzida de forma
semelhante.
Portanto, o caminho de prosperidade social e econômica, como
dita a natureza humana, é a de direitos de propriedade e do livre mercado ou
trocas de tais direitos. E de acordo com o tempo, o ser humano também aprendeu
a evitar métodos antiéticos pela luta de recursos escassos, isto é, A poderia
adquiri-los á custa de B, e, ao invés disso, aprendeu a multiplicar imensamente
esses recursos por meio do processo harmonioso e pacífico de produção e troca.
Existem duas formas exclusivas de adquirir riqueza, segundo
o sociólogo Franz Oppenheimer, as quais são a de produção e troca, o qual ele
chama de “meio econômico”. A outra forma é que não requer produtividade; é a
forma onde se confisca os bens e serviços do outro através do uso da força e
violência, o qual ele denominou de “meio político” de aquisição de riqueza.
Está claro então que o meio político é coercivo, explorador e contrário à lei
natural, ora que é parasítico, pois em vez de adicionar, apenas subtrai.
O meio político desvia a produção para um indivíduo ou grupo
de indivíduos que são parasitas e destrutivos em ato ou potencial. E este
desvio não só subtrai da quantidade que fora produzida, mas como também reduz o
incentivo do produtor para produzir além de seu consumo próprio. O Estado então
nada mais é do que a organização dos meios políticos e a sistematização do
processo predatório sobre determinado território.
COMO O ESTADO SURGIU?
Sabendo então que a produção é predecessora a qualquer
parasitagem, concluímos então que o livre mercado é anterior ao estado, isto é,
não existirá estado e livre mercado simultaneamente. O Estado nunca fora criado
por um “contrato social”, como alguns teóricos balbuciam, mas sim, da conquista
e da exploração.
Um paradigma clássico é o da tribo conquistadora, os quais
resolveram dar uma pausa no seu método de pilhagem e assassinato das tribos
conquistadas ao perceber que a duração do saque seria mais longa e segura, e
claro, uma situação mais agradável, se ela permitisse que a tribo conquistada
continuasse vivendo e produzindo, contudo, os conquistadores deveriam receber
uma taxa constante dessa produção, isto é, um tributo.
Um dos métodos de nascimento de um estado pode ser ilustrado
como se segue: nas colinas da “Ruritânia do Sul”, um grupo de bandidos
organiza-se de modo a obter o controle físico de um determinado território.
Cumprida a missão, o chefe dos bandidos autoproclama-se “Rei do estado soberano
e independente da Ruritânia do Sul”. E se ele e os seus homens tiverem a força
para manter este domínio durante o tempo suficiente, pasmem! Um novo estado
acabou de se juntar à “família das nações”, e aqueles que antes eram meros
líderes de bandidos acabaram se transformando na nobreza legítima do reino.
COMO O ESTADO SE ETERNIZA
Uma vez que o Estado se estabelece, o problema desse grupo é
como manter seu domínio. Mesmo que o modus operandi do Estado seja a força e a
violência, o problema básico para ele ser eterno é o seu projeto ideológico.
Para um governo se manter ele tem de ter a maioria de aprovação de seus
súditos. Após se instalar, ele precisará de ainda mais súditos e apoiadores, e
um dos métodos para assegurar isso é a criação de leis ou interesses econômicos.
Como sabemos, o rei não consegue governar sozinho, e isso
implica que um grupo considerável de seguidores também desfrutem dos
privilégios de domínio, e mesmo com a compra de possíveis votos, essa aceitação
em demasia ainda não acontece. E para produzir essa aceitação, a maioria tem de
ser persuadida por uma ideologia de que o seu governo é bom e sábio e,
obviamente, melhor que as outras alternativas. E para isso vigorar, o governo
precisa de intelectuais.
É inevitável que as massas não pensem por si mesma, mas sim,
seguem passivamente e adotam as ideias transmitidas pelos intelectuais. E por
isso os intelectuais são pessoas “formadoras de opiniões” da sociedade.
Portanto, a aliança entre intelectuais vendidos e o Estado é perfeita para a modelagem
desses indivíduos perante o Estado.
Muitos e variados foram os argumentos usados pelo Estado e
seus intelectuais para promover seu domínio. De forma sucinta, os argumentos
usados são de que os governantes estatais são homens bons e sábios e sabem o
que estão fazendo para o bem de todos. Outro mecanismo muito bem explorado foi
o de instaurar medo.
Os governantes atuais alegavam fornecer uma proteção contra
criminosos, pois, para o Estado de fato se manter, ele deve manter o monopólio
até da parasitagem. Não roube, o Estado odeia concorrência. Uma outra forma
também é a do patriotismo natural para o benefício somente do Estado. Se o
Brasil estivesse sendo atacado pela Argentina, a primeira função do Estado e
dos intelectuais seria dizer que o ataque é dirigido a massa, e não somente
pela casta dominante. Dessa forma, uma guerra entre governante viraria uma
guerra entre povos, em que dessa forma, a massa iria agir em defesa da falsa
crença de que o governo estaria “ajudando” os indivíduos.
Outra potente arma é a tradição, ora que quanto mais tempo o
domínio de um estado se mantém preservado, mais poderosa ela é, pois, dessa
forma, a Dinastia Y ou o Estado X mantém o seu peso da tradição de séculos como
sustento de sua própria existência. O maior perigo para a existência do Estado
é nada mais do que a crítica intelectual independente; não há forma melhor de
criticar do que se não ser um profano violador da “sabedoria” de seus
ancestrais. Na nossa atual época, o direito divino fora excedido por um novo
Deus, a Ciência. O governo estatal agora é proclamado como ultracientífico.
O governo estatal é agora proclamado como ultracientífico,
como constituído por um painel de especialistas. Mas mesmo com a “razão” sendo mais invocada
hoje do que em séculos passados, essa não é a verdadeira razão do indivíduo e
do exercício do seu livre arbítrio; é ainda a razão coletivista e determinista,
que implica sempre agregados holísticos e a manipulação coerciva de súditos
passivos feita pelos seus governantes.
O aumento do uso de dialetos científicos permitiu que os
intelectuais pudessem gozar de situações ridículas que o próprio Estado o faz.
Um assaltante que justificasse o seu roubo dizendo que na verdade ajudou as
vítimas, pois o gasto que fez com o dinheiro fez a economia estimular, teria
convencido pouca gente. Contudo, se o assaltante tivesse falado em teorias
keynesianas e referências do “efeito multiplicador”, ela infelizmente poderia
receber respeito. E é assim que se prossegue o ataque ao bom senso, porém, em
cada época é realizado de maneira diferente.
COMO O ESTADO TRANSCENDE SEUS LIMITES
Ao longo dos séculos, os homens foram formando conceitos e
estratégias com o intuito de diminuir o aparato estatal, contudo, o Estado
acaba recorrendo a seus aliados intelectuais, e, com isso, mostra-se capaz de
transformar cada um desses conceitos em carimbos de legitimidade. Antigamente,
na Europa Ocidental, o conceito de soberania divina afirmava que os reis podiam
governar de acordo com a lei divina. No entanto, os reis perverteram esse
conceito e o transformaram em algo legítimo e de aprovação divina qualquer ato
real.
De fato, a mais ambiciosa tentativa de “impedir” o Estado
foi pondo limites ao mesmo, como por exemplo na Carta dos Direitos, porém, o
Estado conseguiu a proeza de a transformar em “direito a um emprego”, a
estatizando e a suprimindo.
Contudo, essa ameaça é afastada pelo Estado por meio de
propagandas doutrinais e do aviso que uma agência terá a decisão final sobre a
constitucionalidade, e que esta agência, em últimos casos, terá de fazer a
parte do Estado.
Outro exemplo é a Constituição Americana que de certo modo
expressava um sentimento “liberal” na sua origem. Contudo, como dito pelo
Professor Charles Black, que notou um mecanismo limitador do Estado no início
desta constituição, mas conforme o poder do Estado aumentando, ela acabou sendo
ainda mais um instrumento que promove as inconstitucionalidades do Estado.
Black fala que em sua análise existe uma necessidade crucial
da “legitimidade” para que qualquer governo sobreviva. Porém, essa aceitação da
legitimidade se torna um problema bem incomum em um país como o Estados Unidos.
Charles então acrescenta dizendo que é preciso um meio pelo qual o governo não
irá expandir seus poderes com meios inconstitucionais. Como o próprio diz:
“A ameaça suprema [para o governo] é a ampla disseminação de
um sentimento de ultraje e desafeição entre a população, e a consequente perda
de autoridade moral por parte do governo, independentemente de quanto tempo ele
consiga mantê-la pela força ou pela inércia ou pela simples falta de uma
alternativa atraente e imediatamente disponível. Quase todas as pessoas que
vivem sob um governo com poderes limitados serão, cedo ou tarde, sujeitados a
alguma ação governamental que, em sua opinião, consideram estar além do poder
do governo ou mesmo totalmente proibida ao governo.
Um homem pode ser conscrito embora não encontre nada na
Constituição autorizando o recrutamento para o serviço militar obrigatório …. A
um agricultor é dito o quanto ele pode produzir de trigo; ele acredita, e
descobre que alguns advogados respeitáveis partilham dessa crença de que o
governo tem o direito tanto de lhe dizer o quanto de trigo ele pode produzir
como de lhe dizer com quem é que a sua filha se pode casar. Um homem vai para a
cadeia por dizer o que quer e entra em sua cela proferindo …. “o Congresso não passará
quaisquer leis que limitem a liberdade de expressão” ….
A um comerciante é dito o quanto pode cobrar, e quanto tem
de cobrar, por leite desnatado. Existe uma ameaça real que cada uma destas
pessoas (e quem não se encontra entre elas?) chegue a um momento em que irá
confrontar o conceito de limite do poder governamental com a realidade (tal
como a vê) da flagrante transgressão dos limites efetivos, e que tire a
conclusão óbvia acerca do status do governo em relação à legitimidade”.
“O problema, então, é criar meios de decisão governamental
que possam [esperamos] reduzir a um mínimo tolerável a intensidade da objeção
ao governo ser juiz de sua própria causa. Tendo feito isto, podemos apenas ter
a esperança de que esta objeção, embora ainda teoricamente sustentável, perca
força efetiva até o ponto em que o trabalho de legitimação das instituições de
decisão possa ganhar aceitação”.
O QUE O ESTADO TEME
O que o Estado teme, acima de tudo, claro, é qualquer ameaça
a sua existência e poder. A morte do Estado pode ocorrer de duas formas: A
primeira seria por conquista de outro Estado, e a segunda seria por meio de um
golpe revolucionário de seus súditos, isto é, por meio da guerra ou revolução.
Como já dito anteriormente, qualquer meio deve ser sempre usado para fazer as
pessoas entenderem que defender o estado é a mesma coisa que defender a si
mesmas. E essa fraude se torna auto evidente quando o processo de recrutamento
escravo é obrigatório, e aqueles que são contra ou se recusam a defender tal,
são forçados a defender, e isso inclui o uso da força contra o seu próprio
estado.
Podemos colocar em xeque a prova de que o Estado usa a força
e a “justiça” a sua causa e apenas a ela com uma questão: Qual categoria de
crimes que o estado persegue e pune mais intensamente — aqueles cometidos
contra ele mesmo ou contra seus cidadãos? No vocabulário do Estado, os crimes
mais graves são aqueles onde não há vítimas, isto é, não apresentam agressão a
propriedade privada, mas sim ataques contra o bem-estar do Estado. Exemplos que
podem ser citados são: sonegação de impostos, deserção de um soldado, fugir do
alistamento obrigatório, dentre outros.
COMO OS ESTADOS SE RELACIONAM ENTRE SI
Uma vez que a área territorial do nosso planeta se encontra
dividida entre diferentes Estados, as relações entre outros Estados é de suma
importância para a manutenção deste. Visto que o objetivo principal do mesmo
nada mais é do que expansão do poder, e, isso se dá através da conquista de
territórios, vemos que isso significa uma severa briga entre dois governantes
interessados apenas em seus poderes estatais. Apenas um deles irá conseguir
obter o monopólio da coerção sobre uma determinada área.
Contudo, o objetivo “agora” é nada mais do que o
desenvolvimento e preservação do comércio internacional. Isto se deve a destruição
e conflito entre dois países gera uma ruptura brusca na economia, e pode ser
algo irreversível, logo, limitar o seu impacto destrutivo sobre os países e
seus respectivos cidadãos pode ser algo não só bom, mas como economicamente
viável.
Quando os Estados não
estão em guerra, os acordos são necessários para manter uma desavença ao
mínimo. Esses acordos normalmente são feitos de forma nada genuína, ora que um
contrato transfere, de forma definida, títulos sobre a propriedade privada.
Uma vez que um governo não “é o proprietário”, em nenhum
sentido legítimo, da sua área territorial, nenhum acordo que ele possa fazer
irá conferir títulos de propriedade. Portanto, um governo definitivamente não
pode vincular, baseando-se em propriedades consideradas “inalienáveis”, um
governo seguinte por meio de um tratado.
A HISTÓRIA COMO UMA BATALHA ENTRE O PODER ESTATAL E O PODER SOCIAL
Assim como as duas relações humanas básicas e exclusivas são
a cooperação pacífica ou a coerção da exploração, a história da humanidade
também pode ser considerada uma luta por esses princípios. De um lado temos a
produtividade, trocas mútuas e voluntárias. De outro lado, a depredação das
relações sociais.
Albert Jay Nock denominou estas duas forças concorrentes com
os termos “poder social” e “poder estatal”. O poder social nada mais é do que o
poder do homem sobre a natureza, isso inclui sua transformação cooperativa dos
recursos naturais e compreensão racional das leis da natureza. Já o poder
estatal, como vimos, é a apropriação coerciva e parasítica desta produção, isto
é, uma drenagem da produção para uso próprio da casta dominante e que nada
produz.
Ao passo que o poder social é exercido sobre a natureza, o
poder estatal é o poder exercido sobre o homem. Ao longo da história, as forças
criativas e produtivas do homem têm, repetidamente, aberto caminho a novas
formas de transformar a natureza para seu benefício.
Isto ocorreu nos momentos em que o poder social conseguiu se
manter à frente do poder estatal, momentos em que a invasão do estado sobre a
sociedade foi consideravelmente diminuída. Porém, sem exceção, após intervalos
às vezes mais curtos, outras vezes mais longos, o estado sempre se move em
direção a essas novas áreas, para mais uma vez confiscar e debilitar o poder
social.
Se o período entre o século XVII e o século XIX foi, para
muitos dos países ocidentais, uma época de crescimento do poder social com um
consequente aumento da liberdade, da paz e do bem-estar material, o século XX
foi principalmente uma era em que o poder estatal foi recuperando o poder que
havia perdido — com uma consequente reversão rumo à escravidão, à guerra e à
destruição.
E mesmo com várias atitudes e posicionamentos sobre o assunto
ao longo dos séculos, nenhum conseguiu manter o Estado sob controle. O problema
do Estado evidentemente nunca esteve tão longe de ser resolvido como está
atualmente. Talvez novos caminhos devam ser explorados em busca de soluções se
realmente quisermos algum dia resolver de uma vez por todas a questão do
estado.
FONTE: Universidade Libertária
0 comentários:
Postar um comentário